No município de Paraisópolis qual e a maior área urbana ou rural

No município de Paraisópolis qual e a maior área urbana ou rural

Paraisópolis, na Zona Sul de SP, completa 100 anos nesta quinta-feira (16)

Paraisópolis, a segunda maior comunidade da cidade de São Paulo, completa 100 anos nesta quinta-feira (16).

Paraisópolis, que atualmente é a quinta maior favela do Brasil, surgiu em 16 de setembro, como um loteamento na região do Morumbi. Heliópólis, também na Zona Sul, é considerada a maior comunidade da capital paulista.

Para comemorar um século de existência, a favela, que fica na Zona Sul da capital paulista, vai oferecer atividades gratuitas durante uma semana para mostrar as suas diversidades (confira a programação abaixo).

O Pavilhão Social G10 Favelas de Paraisópolis, na Rua Itamotinga, 100, reúne a partir desta quinta até o dia 25 uma série de atividades para o início das comemorações. Serão realizadas ações para mostrar a diversidade da comunidade, seja na área da cultura, do empreendedorismo, do esporte, da moda, da gastronomia, entre outras iniciativas.

Destaques e campanha

No município de Paraisópolis qual e a maior área urbana ou rural
1 de 3 Parte interna do Parque Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, ainda em fase de obras. — Foto: Reprodução/SMVA/PMSP Parte interna do Parque Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, ainda em fase de obras. — Foto: Reprodução/SMVA/PMSP

Entre os destaques da programação, estão o Projeto Favelas do Brincar, o espaço de recreação para as crianças, e a campanha “Um Presente para Paraisópolis” para arrecadar alimentos e brinquedos para famílias da comunidade.

“A grande celebração é ajudar. Nós estamos nesse momento buscando apoio para que a gente consiga ajudar as pessoas no combate à fome e a má nutrição, e também doando presentes para Paraisópolis”, disse Gilson Rodrigues, presidente da União dos Moradores de Paraisópolis.

“É uma festa de comemoração desses 100 anos de luta, mas também temos muitos desafios para o próximo período, que são: retomada das obras de urbanização, melhoria da questão de educação, abertura do Parque Paraisópolis. São muitos desafios que queremos para os próximos 100 anos”, falou Gilson.

Programação

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2 de 3 Vista da comunidade de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, considerada uma das maiores favelas da América Latina. — Foto: VAN CAMPOS/ESTADÃO CONTEÚDO Vista da comunidade de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, considerada uma das maiores favelas da América Latina. — Foto: VAN CAMPOS/ESTADÃO CONTEÚDO

A solenidade de abertura aconteceu nesta quinta, com direito ao tradicional “parabéns” e bolo feito pelas mulheres do Mãos de Maria Brasil, além de contar com a presença de figuras do poder público, além de celebridades, lideranças comunitárias e parceiros.

Na programação do primeiro dia do evento inclui a exposição “Memórias — Reflexos do Inevitável”, que conta com a parceria do projeto Através do Vidro, a inauguração do projeto Favelas do Brincar, desfile com as mulheres da AMP (Associação de Mulheres de

Paraisópolis), em parceria com a Costurando Sonhos Brasil, a Camisaria do Bem, a Emprega Comunidades e a Escola Belezinha, que realizará uma oficina com o cabeleireiro Rodrigo Cintra.

Na sexta-feira (17), segundo dia de evento, haverá o anúncio da parceria entre Favela Brasil Xpress e Total Express que realizará transporte aéreo de produtos e doações para todo o Brasil.

No sábado (18) acontece a retomada da famosa Feijoada das Marias, com samba na laje e com o roteiro turístico, Paraisópolis das Artes, seguindo todas as orientações de prevenção ao coronavírus (Covid-19) divulgadas pelos órgãos de saúde.

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3 de 3 Favela de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, e prédios do bairro do Morumbi atrás — Foto: Fabio Tito/G1 Favela de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, e prédios do bairro do Morumbi atrás — Foto: Fabio Tito/G1

No domingo (19) será lançada a Feira AgroFavela-Refazenda que contará com oficinas de plantio de hortaliças, venda de produtos da horta e o lançamento do e-book “Comida Saudável”.

E para dar seguimento às comemorações, na segunda-feira (20), será realizado o Primeiro Encontro de Revendedoras das Favelas, uma iniciativa da Academia de Revendedoras Galáxia em parceria com o G10 Bank.

O encerramento da 13ª Semana de Paraisópolis, será no dia 25, e ficará a cargo do Favela Music Brasil que fará uma live especial, com apresentação de convidados como os Trovadores Urbanos, Orquestra Filarmônica de Paraisópolis e Grupo de Teatro de Paraisópolis.

Neste mês de setembro, a comunidade promove a campanha “Um Presente para Paraisópolis” com objetivo de arrecadar fundos para compra de alimentos e brinquedos para famílias que moram na favela. Para obter mais informações, acesse o site da campanha.

1 século de história

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Relembre projetos de Paraisópolis com fortes relações com o campo

Segundo a União dos Moradores de Paraisópolis, a história da favela começa no ano de 1921. A área em que atualmente está situada a favela fazia parte da Fazenda do Morumbi, parcelada em 2.200 lotes pela União Mútua Companhia Construtora e Crédito Popular S.A.

A infraestrutura do loteamento não foi completamente implantada e muitas pessoas que adquiriram os lotes nunca tomaram posse efetiva, nem pagaram os tributos devidos. Com isso, eles foram abandonados. Dessa forma, tornaram-se um convite para a ocupação informal.

Esse processo começou por volta de 1950, protagonizado principalmente por famílias que a transformaram em pequenas chácaras, além de atuarem como grileiros.

Os anos 1960 vão encontrar essa região com roças e gado bovino. Havia poucas casas e alguns bares, porém com a implantação de bairros de alto padrão como o Morumbi, os cemitérios Gethsemani e Morumbi, e a abertura de vias de acesso, como a Avenida Giovanni Gronchi, a região passou a ser objeto de grande valorização, despertando o interesse econômico.

Nessa mesma década, foi elaborado o primeiro Plano de Desenvolvimento Integrado de Santo Amaro, que propunha a declaração da área como utilidade pública, visando uma posterior urbanização. Mas essa ideia não prosperou.

Em 1970 surgiram os primeiros barracos de madeira, ocasião em que se iniciou a ocupação do Jardim Colombo e Porto Seguro, vizinhas a Paraisópolis.

Ainda nos anos 1970, ficou definido pelo poder público que a ocupação ficaria restrita à habitação unifamiliar e de uso misto, criando condições para implantação de um plano especial de ocupação a ser elaborado em 5 anos.

Novamente as ações não se concretizaram e entre 1974 e 1980 intensificou-se o processo de ocupação da região. O crescimento do processo migratório acelerou-se ainda mais a partir de 1980.

Entre as diversas causas, a facilidade de emprego pelo crescimento acentuado dessa região, principalmente com a demanda crescente de trabalhadores para a construção civil.

Perfil de Paraisópolis

  • Cerca de 100 mil habitantes
  • 85% nordestinos
  • 13 escolas públicas (estaduais e municipais)
  • 1 Centro Educacional Unificado (CEU)
  • 1 Escola Técnica (ETEC)
  • 3 Unidades básicas de Saúde
  • 1 Assistência Médica Ambulatorial (AMA )
  • 4 Agências Bancárias
  • 658 presidentes de rua
  • 31. 400 pessoas cadastradas no Emprega Comunidades
  • 1.500 empregos formais;
  • Potencial de consumo: R$ 578 Mi;
  • Lanchonetes representam 26%; Lojas de Roupa 15%; Mercados e Supermercados 14% e Salões de Beleza 13%;
  • 72% formalizados como MEI;
  • 1 Agência de Empregos
  • 1 Agência de Comunicação da Favela
  • Jornal Comunitário
  • Rádio Comunitária

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'Pancadões' de Paraisópolis são uma das poucas opções de lazer para jovens da comunidade

A comunidade de Paraisópolis – onde nove pessoas morreram pisoteadas num baile funk após ação da Polícia Militar na madrugada deste domingo (1º) – tem mais de 100 mil habitantes, 21 mil domicílios em uma área de 10 km² na Zona Sul de São Paulo. É considerada a segunda maior de São Paulo, ficando atrás apenas de Heliópolis.

Apesar de possuir equipamentos públicos, a região ainda é carente de mais ações sociais e infraestrutura urbana há pelo menos dez anos.

Em nota divulgada após o ocorrido no baile funk, a União de Moradores de Paraisópolis afirmou: "Não foi acidente! Jovens de toda a cidade há anos vêm curtir o baile da D17, e encontram na comunidade que sofre com a ausência de oportunidades culturais e de lazer uma oportunidade para estar com amigos e se divertir".

No comunicado (leia a íntegra ao final da reportagem), a entidade também disse: "Com frequência, ocorrem ações policiais de dispersão, causando correria e violência, como mostram os videos. Essa madrugada, jovens foram encurralados em becos e vielas e foram levados a caminho da morte, e quem deveria proteger está gerando mais violência".

Paraisópolis é cercada por prédios de alto padrão, shoppings e hipermercados, o que mostra a diferença social na região. Mesmo com tanta desigualdade, a comunidade ainda consegue oferecer opções de lazer para os moradores, como o Ballet Paraisópolis, projeto criado em 2012.

Neste ano, cerca de 50 bailarinos, com idade entre 6 e 17 anos, participaram do desfile da Acadêmicos do Tatuapé, no carnaval de São Paulo.

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Viela para onde pessoas correram em Paraisópolis ainda tem marcas do incidente

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1 de 4 Alunas do projeto brincam na rua em frente à sede da escola — Foto: Marcelo Brandt/G1 Alunas do projeto brincam na rua em frente à sede da escola — Foto: Marcelo Brandt/G1

Segundo o Mapa da Desigualdade, divulgado em novembro deste ano pela Rede Nossa São Paulo, moradores da Vila Andrade esperam em média 75,2 dias (cerca de dois meses e meio) para passar por uma consulta com um clínico geral na rede pública de saúde. O número mostra uma grande diferença em comparação a outros 17 bairros, cujo tempo médio de espera em dias é igual a zero.

A população é composta por 31% de jovens entre 15 e 29 anos. Esse perfil de população é a que está mais vulnerável à falta de empregos e oportunidades. Doze mil são analfabetos ou semianalfabetos.

Nas casas, 42% das famílias são chefiadas por mulheres.

Dados de Paraisópolis

  • 2ª maior favela de São Paulo e 5ª maior do Brasil
  • 10 km² de área
  • 100 mil habitantes
  • 21 mil domicílios
  • 12 mil moradores analfabetos ou semianalfabetos
  • 31% da população é composta por jovens de 15 a 29 anos, portanto mais vulneráveis à carência de emprego e oportunidades
  • 42% das famílias têm mulheres como responsáveis
  • Renda média de 87% dos chefes de família é de até 3 salários mínimos
  • 21% da população que tem emprego atua no comércio local
  • Aproximadamente 10 mil comércios locais
  • Grande crescimento nos últimos anos
  • Grandes empresas ingressando no mercado local
  • 12 escolas públicas (estaduais e municipais), uma Escola Técnica Estadual (Etec), um Centro Educacional Unificado (CEU), três unidades básicas de saúde (UBS) e uma unidade de Assistência Médica Ambulatorial (AMA)

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2 de 4 Raio X de Paraisópolis — Foto: Juliane Souza/G1 Raio X de Paraisópolis — Foto: Juliane Souza/G1

Os problemas do pancadão

Para Bruno Langeani, coordenador do Instituto Sou da Paz, os pancadões e bailes funks não devem ser tratados apenas como problema de segurança pública. "É algo que faz parte da cultura dessas pessoas e muitas vezes são as poucas opções de lazer disponíveis. Agora, tem vários aspectos que estão relacionados a este caso. Você tem muitos moradores sofrendo com som alto, sem conseguir dormir, você tem muitas vezes moradores que ficam presos em casa, não conseguem sair para trabalhar, não conseguem sair para fazer outras atividades, porque a rua está tomada."

Langeani falou ainda que esses pancadões acabam mascarando atividades ilegais. "Você tem também, infelizmente, atividades criminais que orbitam não só nessas festas de periferia, mas em várias festas, em vários eventos culturais, algumas atividades criminais que orbitam ao redor disso; então a gente estava falando de uso de droga, muitas vezes de furto e roubo de veículos, uso de arma de fogo, abuso de menores."

Ele disse que é preciso ações conjuntas para evitar situações de violência relacionadas aos pancadões. "Esse é um assunto que a gente precisa resolver não só com polícia, precisa de outros atores atuarem conjuntamente, é algo que demanda outras agências trabalhando, para que a gente consiga as manifestações culturais acontecendo, sem esses outros efeitos negativos, de criminalidade ao redor."

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'É fundamental que as periferias recebam investimentos', afirma Carolina Ricardo

Falta de serviços públicos

Em 2012, os moradores já questionavam a ausência de ações conjuntas na área de saneamento, saúde, habitação e iluminação. Em 2010, a comunidade passou por vários projetos de urbanização, ganhando até exposição no Museu da Casa Brasileira e no CEU de Paraisópolis. O projeto recebeu visita de George Brugmans, diretor da Bienal Internacional de Arquitetura de Roterdã, que decidiu levar o projeto de urbanização da favela para ser exposto em outros países.

A cidade de São Paulo possui 1.705 favelas com mais de 460 mil moradias. Levantamento do Tribunal de Contas do Município mostra que o número de famílias beneficiadas pelo programa habitacional de urbanização de favelas despencou nos últimos anos até zerar em 2017. Os investimentos na área também diminuíram.

Em 2013, foram 1.319 famílias beneficiadas; em 2014, 1.717; em 2015, 413 famílias; em 2016 caiu para 369 famílias e em 2017 nenhuma.

No ano passado, a Prefeitura tirou R$ 272 milhões previstos para urbanização de favelas e remanejou o dinheiro para outras áreas.

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3 de 4 Policiais circulam por Paraisópolis desde segunda-feira (29) na Operação Saturação realizada em 2012 — Foto: Glauco Araújo/G1 Policiais circulam por Paraisópolis desde segunda-feira (29) na Operação Saturação realizada em 2012 — Foto: Glauco Araújo/G1

Dez anos atrás, moradores começaram a usufruir de serviços sociais oferecidos durante ocupação feita pela Polícia Militar, mas continuaram a questionar falta de infraestrutura.

Em Paraisópolis, 21% da população que trabalha atua no comércio local, que possui mais de 10 mil estabelecimentos. A renda média de 87% dos chefes de família na região é de até três salários mínimos.

A comunidade dispõe de 12 escolas públicas (estaduais e municipais), uma ETEC, um CEU, três UBSs e uma AMA.

Nota da União de Moradores de Paraisópolis

"NÃO FOI ACIDENTE!

Jovens de toda a cidade há anos vêm curtir o baile da D17 e encontram na comunidade que sofre com a ausência de oportunidades culturais e de lazer uma oportunidade para estar com amigos e se divertir.

Com frequência, ocorrem ações policiais de dispersão, causando correria e violência, como mostram os videos. Essa madrugada, jovens foram encurralados em becos e vielas e foram levados a caminho da morte, e quem deveria proteger está gerando mais violência.

Não aceitaremos calados, exigimos justiça com a punição dos culpados. Paraisópolis e as comunidades precisam de ações sociais para enfrentar suas dificuldades, mais do que remediar, precisamos prevenir. CHEGA de violência, queremos paz.

Paraisópolis presta toda a sua solidariedade e nossos sinceros sentimentos às famílias dos jovens mortos nesta tragédia já anunciada que aconteceu hoje em nossa comunidade".

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4 de 4 Mapa da comunidade Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo — Foto: Amanda Paes/G1 Mapa da comunidade Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo — Foto: Amanda Paes/G1

MORTES EM PARAISÓPOLIS