Em 1968, o mundo vivia uma intensa ebulição política e social. Era o auge da Guerra Fria, período em que o bloco capitalista – liderado pelos Estados Unidos (EUA) – e o socialista – encabeçado pela União Soviética (URSS) – disputavam a hegemonia mundial. Na Europa, essa polarização dividiu o continente. Enquanto os EUA garantiram sua influência no lado ocidental, a URSS projetou-se sobre os países do Leste Europeu. Em ambos os lados da Cortina de Ferro, como ficou conhecida a fronteira entre os Estados capitalista e comunista do continente, essa efervescência deu origem a dois dos acontecimentos mais importantes da segunda metade do século XX: o Maio de 1968 na França e a Primavera de Praga, na Tchecoslováquia. Maio de 1968Na França de 1968, o general Charles de Gaulle completava dez anos no poder, e a sua presidência era vista por muitos jovens como uma ditadura disfarçada. Enquanto isso, um interessante fenômeno social estava em curso no país: o aumento do número de jovens no Ensino Superior. Embalados pela expansão do movimento hippie e pela liberdade sexual, essa massa de universitários tinha sede de modernidade e se mostrava cada vez mais insatisfeita em relação a uma sociedade incapaz de atender a seus anseios por prosperidade, justiça e liberdade. O ambiente acadêmico, entretanto, frustrava suas expectativas. A universidade era um espaço de regulamentos repressivos e disseminação de valores arcaicos e conservadores. No início de 1968, no campus de Nanterre da Universidade de Paris, a determinação que proibia alunos de dividir os dormitórios da residência estudantil com colegas do sexo oposto foi o estopim para que os estudantes entrassem em greve por reformas educacionais. No começo de maio, o reitor da universidade decidiu fechar a instituição, temendo uma escalada dos protestos. Mas a decisão só aumentou a revolta estudantil. A solidariedade dos alunos da Universidade de Sorbonne, que organizaram marchas por Paris, deu maior amplitude às manifestações. Com o fechamento da Universidade de Sorbonne, um novo protesto foi realizado no dia 10 de maio, reunindo 40 mil manifestantes. O episódio, que ficou conhecido como a “Noite das Barricadas”, foi tenso: proibidos de marcharem, os estudantes ergueram barricadas e entraram em confronto com a polícia, atirando pedras arrancadas do calçamento. Os policiais utilizaram bombas de gás e bateram nos manifestantes. Quase 500 estudantes foram presos e centenas ficaram feridos. A violenta repressão autorizada pelo governo despertou a sociedade francesa para os problemas do país. Os operários se juntaram à causa, e o que era uma revolta estudantil deu origem à maior greve geral da história da França. Em meio aos protestos, a principal arma dos estudantes foram as ideias. O movimento ficou conhecido por elaborar algumas frases emblemáticas, como “É proibido proibir”, “Faça amor, não guerra” e “Decreto o estado de felicidade permanente”. Após conceder aumento salarial e benefícios aos trabalhadores, o presidente De Gaulle neutralizou os protestos e resolveu antecipar as eleições para junho, como forma de testar seu poder. Deu certo. Continua após a publicidade O general venceu o pleito, mostrando que, apesar da inédita magnitude dos protestos, ele ainda contava com respaldo suficiente para se manter no poder – pelo menos até o ano seguinte, quando seria derrotado nas urnas em nova eleição antecipada. Primavera de PragaTambém movida pelo sentimento de mudança que embalava o mundo em 1968, a Primavera de Praga foi um movimento por reformas políticas, econômicas, sociais e culturais na então Tchecoslováquia. O país comunista do Leste Europeu, alinhado com a URSS, experimentou uma breve abertura liberal a partir das reformas promovidas por seu líder, Alexander Dubcek. Ele assumiu o poder em janeiro de 1968 com a ideia de romper a doutrina autoritária imposta pelo Partido Comunista. Em suas palavras, queria dar uma “face mais humana ao comunismo”. Para isso, pôs fim à censura, permitiu o funcionamento da Igreja e propôs a atuação de grupos de oposição. Dubcek adotou mecanismos de economia de mercado e se aproximava cada vez mais da Alemanha Ocidental, de regime capitalista. O movimento despertou o anseio da população por mais democracia, o que não foi visto com bons olhos pela URSS, temerosa de que a onda reformista se espalhasse pelo Leste Europeu. A repressão ao movimento não tardou. Em 20 de agosto, a capital, Praga, foi invadida por 7 mil tanques e mais de 600 mil soldados da URSS e de quatro nações do Pacto de Varsóvia – o acordo de cooperação militar entre os países comunistas da região. O movimento foi sufocado em poucos dias. O que chamou a atenção foi a resistência pacífica organizada pelos partidários de Dubcek – gritos de protesto, cartazes e até flores distribuídas aos invasores foram as armas utilizadas pelos tchecoslovacos. Logo após a invasão, Dubcek foi levado para Moscou, onde sofreu forte pressão das autoridades soviéticas. Voltou a Praga uma semana depois e, apesar de manter-se no poder, anunciou a suspensão das reformas. A frustração da população com o precoce fim da experiência democrática no país foi simbolizada pelo suicídio do estudante e ativista Jan Palach, que ateou fogo ao próprio corpo em praça pública, em janeiro de 1969, como forma de protesto. A Primavera de Praga se encerrou definitivamente com a queda de Dubcek, em abril. Apesar dos desfechos frustrantes, tanto os eventos de Maio de 1968 na França como a Primavera de Praga ajudaram a impulsionar diferentes movimentos por direitos civis na Europa e em outras partes do mundo. Se na França as revoltas estudantis provocaram intensas transformações no panorama social e cultural, na Tchecoslováquia os frutos das manifestações de 1968 seriam colhidos apenas com a crise do bloco socialista, a partir da queda do Muro de Berlim, em 1989. Com a abertura política, a Tchecoslováquia foi desmembrada em 1993, gerando dois novos países: a República Tcheca e a Eslováquia. Esta página cita fontes, mas estas não cobrem todo o conteúdo.Julho de 2012) O Maio de 1968 foi um movimento político na França que, marcado por greves gerais e ocupações estudantis, tornou-se ícone de uma época onde a renovação dos valores veio acompanhada pela proeminente força de uma cultura jovem. A liberação sexual, a Guerra no Vietname, os movimentos pela ampliação dos direitos civis compunham toda a pólvora de um barril construído pela fala dos jovens estudantes da época. Mais do que iniciar algum tipo de tendência, o Maio de 68 pode ser visto como desdobramento de toda uma série de questões já propostas pela revisão dos costumes feita por lutas políticas, obras filosóficas e a euforia juvenil.[1] No dia 2 de maio de 1968, estudantes franceses da Universidade de Nanterre fizeram um protesto contra a divisão dos dormitórios entre homens e mulheres. Na verdade, esse simples motivo vinha arraigado de uma nova geração que reivindicava o fim de posturas conservadoras. Aproveitando do incidente, outros universitários franceses e grupos político partidários resolveram engrossar fileiras dos protestos contra os problemas vividos na França. Com a cobertura televisiva, o episódio francês ficava conhecido pelo mundo. Em pouco tempo, o contorno das questões que motivavam o protesto ganhavam contornos mais amplos e delicados. Os estudantes passaram a exigir a renúncia do presidente Charles de Gaulle, considerado um conservador, e a convocação de eleições gerais eram as novas propostas dos manifestantes. A partir daí a cidade de Paris transformou-se em palco de confrontos entre policiais armados e manifestantes protegidos em barricadas. Desprovidos de igual força bélica, os revoltosos atiravam pedras e coquetéis molotov contra os policiais. No dia 18, os trabalhadores protagonizaram uma greve geral de proporções alarmantes. Mais de 9 milhões de trabalhadores cruzaram os braços exigindo melhores condições de trabalho. Acuado pela proporção dos episódios, o presidente Charles de Gaulle se refugiou em uma base militar alemã, concedeu um abono de 35% ao salário mínimo e convocou novas eleições legislativas. Dessa forma, os trabalhadores esvaziaram os espaços de manifestação e voltaram a ocupar seus postos de trabalho. Nas eleições convocadas pelo governo francês, os políticos vinculados à figura de Gaulle conseguiram expressiva vitória. O presidente saiu do episódio como uma figura capaz de contornar os problemas enfrentados pela sociedade da época. Mesmo sem alcançar algum tipo de conquista objetiva, o movimento de Maio de 68 indicou uma mudança de comportamentos. As artes, a filosofia e as relações afetivas seriam o espaço de ação de um mundo marcado por mudanças. Não podemos bem ao certo julgar esse episódio como imaturo ou precipitado. Muito menos sabemos limitar precisamente o quanto o mundo modificou a partir de então. No entanto, podemos refletir qual o lugar que a rebeldia e vigor das ideias ocupam em uma sociedade sistematicamente taxada de consumista e individualista. Começou como uma série de greves estudantis que irromperam em algumas universidades e escolas de ensino secundário em Paris, após confrontos com a administração e a polícia. A tentativa do governo gaullista de esmagar essas greves com mais ações policiais no Quartier Latin levou a uma escalada do conflito, que culminou numa greve geral de estudantes e em greves com ocupações de fábricas em toda a França. Alguns filósofos e historiadores afirmaram que esse evento foi um dos mais importantes e significativos do século XX, porque não se deveu a uma camada restrita da população, como trabalhadores e camponeses - que eram maioria -, mas a uma insurreição popular que superou barreiras étnicas, culturais, de idade e de classe. Além disso, teve intrínsecas ligações com os acontecimentos do pós-guerra e com os da Guerra Fria. Outras interpretações inserem o Maio de 1968 no contexto de manifestações e insurreições bem mais amplas que os acontecimentos franceses, tais como o ‘Outono quente’ italiano e o “Cordobazo” argentino, culminando na Primavera de Praga na Tchecoslováquia. O traço em comum entre tais levantes seria o repúdio a linha oficial da União Soviética e ao Stalinismo.[2] De acordo com o professor Felipe Maruf Quintas, o Maio de 68 foi a primeira das Revoluções coloridas incitadas pela CIA.[3] Uma das características das revoluções coloridas é, segundo Andre Korybko, que os agentes "se aproveitam de problemas identitários em um Estado-alvo a fim de mobilizar uma, algumas ou todas as questões identitárias mais comuns para provocar grandes movimentos de protesto, que podem então ser cooptados ou dirigidos por eles para atingir seus objetivos políticos".[4] De acordo com Quintas, Charles de Gaulle em 1964 furou o bloqueio que os Estados Unidos impunham a países ocidentais no que diz respeito a empréstimos a União Soviética, o que enfureceu o país saxão. Além disso, De Gaulle restabeleceu relações com Cuba e iniciou relações independentes com países do Terceiro Mundo, ou seja, não alinhados, com, inclusive "possibilidade de transferência de tecnologias por parte das empresas francesas para países do terceiro mundo em vários setores".[5] "Os legados deixados pelo Maio de 1968 foram o Neoliberalismo e a Política identitária. Maio de 68 foi individualista, exaltou o individualismo subjetivista contra o Estado de bem-estar social na Europa."[3][5] A maioria dos insurretos era adepta a ideias de esquerda. Muitos viam os eventos como uma oportunidade para sacudir os valores da "velha sociedade", contrapondo ideias avançadas sobre a educação, a sexualidade e o prazer. Entre eles, uma pequena minoria, como o Occident, professava ideias de direita.
|