Para a teoria marxista, o que é base econômica?

Juliana Bezerra

Professora de História

Marxismo é o conjunto de ideias filosóficas, econômicas, políticas e sociais elaborado a partir do escritos dos alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895).

Esta corrente de pensamento influenciou intelectuais de todas as áreas do saber ao longo dos século XIX e XX.

Origem do Marxismo

Marx e Engels perceberam que o trabalho é o conceito chave da sociedade. Desta forma, toda a história da humanidade passaria pela tensão entre os donos dos meios de produção e quem apenas poderia realizar a tarefa.

Assim, para a teoria marxista a luta de classes seria “o motor da história”. Já a produção dos bens materiais seria o fator condicionante da vida social, intelectual e política.

Para a teoria marxista, o que é base econômica?
Marx e Engels contemplam a impressão dos seus artigos.

Marx e Engels refletiram sobre as relações humanas e as instituições que regulavam as sociedades, como a propriedade privada, a família, o governo, a igreja, etc. Daí surgem os princípios que fundamentaram o marxismo, também conhecido como “socialismo científico”.

Por outro lado, o “socialismo utópico” já teorizava sobre os meios capazes de solucionar a diferença entre os membros do proletariado e da classe burguesa dominante.

Suas ideais inspiraram várias correntes de pensamento que desejavam mudar as estruturas capitalistas como o anarquismo, o socialismo e o comunismo, entre outros.

Portanto, para os marxistas, é necessário atrelar o pensamento à prática revolucionária, unindo o conceito à práxis para transformar o mundo.

Contudo, aqueles pensadores superestimaram a previsibilidade das sociedades humanas. Afinal, muitos dos países que se autoproclamavam seguidores das ideias marxistas não seguiram à risca os seus preceitos.

Principais correntes marxistas

As principais correntes do marxismo foram a social democracia, presente nos países ocidentais até os dias atuais, e o bolchevismo, extinto com a queda da URSS.

Ademais, a obra basilar do marxismo é “O Capital”, publicado em 1867. Como Marx falece em 1883, os volumes de 1885 e 1894, foram editadas por Engels, a partir dos manuscritos de Marx.

Esta obra permanece como leitura básica e ainda é influente nos campos da filosofia, bem como em outras áreas das ciências humanas e economia.

Influência do Marxismo

O marxismo inspirou diversas revoluções como a bolchevique de Vladimir Lenin e Leon Trotsky, na Rússia em 1917.

Após a Segunda Guerra Mundial, algumas dessas ideias foram adotadas na formação da República Popular da China, Vietnã, Alemanha Oriental, Polônia, Hungria, Bulgária, Iugoslávia, Checoslováquia, Coreia do Norte e Cuba.

Teoria Marxista

Para a teoria marxista, o que é base econômica?
A contradição entre os trabalhadores e burgueses foi retratada nos murais do mexicano Diego de Rivera

Desenvolvida em quatro níveis fundamentais, a teoria marxista se agrupa nos níveis filosófico, econômico, político e sociológico, segundo a ideia de “transformação permanente”.

Fica explicito, nessa abordagem, que o ser humano e a sociedade só podem ser compreendidos através das forças que produzem e reproduzem as condições materiais básicas para a sobrevivência.

Nessa perspectiva, torna-se fundamental a análise das condições materiais da existência humana em sociedade.

Por outro lado, o marxismo foi gestado a partir de três tradições intelectuais desenvolvidas na Europa do século XIX a saber:

  • o idealismo alemão de Hegel;
  • a economia-política de Adam Smith;
  • a teoria política do socialismo utópico, de autores franceses.

A partir destas concepções foi possível elaborar um estudo da humanidade através do materialismo histórico.

Conceito de História

Para Marx, a história seria um processo de criação, satisfação e recriação contínuas das necessidades humanas. Estas não podem ser compreendidas fora do contexto histórico e seu determinismo material historicamente localizado.

O conhecimento liberta o homem por meio da ação deste sobre o mundo, possibilitando, inclusive a ação revolucionária contra a ideologia dominante. Esta sempre busca camuflar as contradições do sistema capitalista.

Portanto, o marxismo percebe a luta de classes como meio para o fim dessa exploração, bem como para instituição de uma sociedade onde os produtores seriam os detentores de sua produção.

Conceito de Estado

Sobre o “Estado”, Marx percebeu que não seria um ideal de moral ou de razão, mas sim uma força externa da sociedade que se colocaria acima da mesma.

Contudo, isso seria, na realidade, uma forma de garantir a dominação da classe dominante, mediante a manutenção da propriedade.

Assim, o Estado teria surgido ao mesmo tempo que a propriedade privada e como uma forma de protegê-la, o que torna qualquer Estado, por mais democrático que seja, uma ditadura.

Karl Marx e Friedrich Engels acreditam que o Estado se utiliza de várias ferramentas para efetivar sua dominação. Alguns exemplos seriam a burocracia, a divisão territorial dos cidadãos e o monopólio da violência, garantida por um exército permanente.

Sociedade Comunista

Desse modo, fica implícito que a revolução armada seria um caminho para destruir a sociedade capitalista.

Igualmente, o socialismo seria a etapa intermediária entre o Estado burguês e o Comunismo. Numa sociedade comunista não haveria mais a divisão da sociedade em classes, e seria o fim do modo de produção capitalista.

Essa seria a “Ditadura do Proletariado”, caracterizada pela absorção das funções sociais destinadas ao Estado. Note que desapareciam, também, as características estatais, tal como a burocracia e o exército permanente.

Por fim, o governo proletário cederia em função de uma sociedade comunista, na qual o Estado e as propriedades seriam extintas permanentemente.

Mais Valia e Alienação

Dentre os vários conceitos marxistas, destacam-se os de “mais valia” e “alienação”.

Mais-Valia

Refere-se ao trabalhador, o qual produz mais do que foi calculado, criando um valor muito superior ao que lhe é restituído na forma de salário.

Assim, este trabalho excedente não é pago ao trabalhador. Este valor, segundo a visão marxista, será utilizado pelo capitalista para aumentar ainda mais o seu capital, assim como o estado de dominação sobre o trabalhador.

Enfim, “mais valia” é a diferença entre o que o operário recebe (salário) e o que produziu efetivamente.

Alienação

Por outro lado, a “alienação” ocorre quando o produtor não se reconhece no que produz, fazendo o produto surgir enquanto algo separado do produtor.

Materialismo Histórico e Dialético

O materialismo histórico é um modo para compreender as sociedades humanas a partir da forma pela qual os bens materiais são produzidos e distribuídos entre os seus integrantes. Este conceito deu origem à teoria dos “Modos de Produção”: Primitivo, Asiático, Escravista, Feudal, Capitalista e Comunista.

Por outro lado, o materialismo dialético seria, basicamente, a luta de classes, a contradição entre os interesses de dominantes e dominados a qual gera as transformações históricas.

A superação definitiva de um sistema por outro, seria fruto das lutas de uma sociedade divididas em classes. Nela, os trabalhadores conduzem o processo revolucionário no qual tomam o controle do Estado, como no caso da Revolução Francesa, quando a burguesia vence a nobreza e toma seu lugar.

Portanto, o materialismo histórico e o materialismo dialético são, de fato, conceitos inter-relacionados. O primeiro daria uma visão panorâmica e o segundo retrata os processos de mudança social.

Leia:

  • Materialismo
  • Dialética: a arte do diálogo e da complexidade

Personalidades influenciadas pelo Marxismo

Curiosidades sobre o Marxismo

  • A teoria marxista tornou-se uma ideologia que se estendeu a regiões de todo o mundo e embasa governos até os dias de hoje.
  • Marx se denominava um materialista e afirmava que não era marxista.
  • As reformas econômicas socialistas, baseada nos conceitos marxistas, também foram responsáveis por milhões de mortes no século passado, causadas por guerras e pela fome generalizada.
  • A Revolução Russa foi o maior experimento de engenharia social na história da humanidade.
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Durantes os quatro dias da Universidade Marxistas Internacional 2020 os militantes da Esquerda Marxista, seção brasileira da Corrente Marxista Internacional (CMI) estão empenhados em disponibilizar em nossa página breves relatos dos 16 temas tratados na Escola. O objetivo é estimular nossos leitores a aprofundar o conhecimento sobre nossas posições e a juntarem-se a nós na construção da CMI. Para sua localização procure pelo dia e o tema que deseja fazer a leitura.

Começamos o terceiro dia da Universidade Marxista Internacional com um grande debate sobre a defesa da teoria econômica marxista. Rob Sewell, da seção britânica da Corrente Marxista Internacional (CMI), iniciou seu informe com os principais fundamentos econômicos propostos por Karl Marx, em uma linguagem compreensível para todos.

O capitalismo possui um histórico de crises e depressões que fazem parte de sua essência, é um sistema que possui bases nas suas contradições. Sewell traz à tona alguns dos efeitos destas contradições, como: a tendência inerente da queda constante da taxa de lucro, desemprego em massa e aumento da inflação. Onde observamos como o capitalismo já fracassou, e devido a desesperada insistência dos reformistas burgueses em tentar salvar este sistema doente, vê-se a necessidade da análise econômica marxista para explicar que é impossível gerenciar essas crises, e só a planificação da economia, o socialismo, pode levar a sociedade para o seu progresso.

As ideias econômicas propostas por Karl Marx mostram-se como as mais eficientes para entendermos esse caos econômico e social que a humanidade vivencia sempre que o capitalismo entra em suas periódicas crises. Pois, Marx não era um profeta, era um cientista que utilizava de ferramentas analíticas para entender a sociedade, e são nessas ferramentas científicas, como por exemplo o materialismo histórico, que a economia marxista é baseada.

Nas intervenções do debate, foi deixado muito claro que um bom teórico econômico é aquele que melhor consegue descrever as características  fundamentais do sistema econômico, e ainda por meio da análise do presente, prever seu comportamento futuro. Foi exatamente o que Marx conseguiu realizar, ao escrever sobre as contradições deste sistema e ainda conseguir prever muitas de suas crises, que segundo o mesmo são resultados de suas próprias contradições.

As mesmas condições para uma teoria econômica de excelência não se encontram naquelas formuladas por economistas burgueses, que por terem uma predisposição ideológica de defender o falido sistema, não conseguem prever suas crises, onde eles somente conseguem realizar análises superficiais sobre o capitalismo. Diferente da economia marxista, que considera as questões fundamentais do capitalismo, que é um sistema baseado na exploração.

Os economistas burgueses sabiam que a exploração acontecia, porém segundo eles os trabalhadores são só um fator da produção, e o lucro seria uma recompensa justa. Mas os trabalhadores não são só um fator da produção, são a fonte direta do valor. E este fato é facilmente observável pela crise atual, onde devido a pandemia, muitas pessoas foram impossibilitadas de trabalhar, o que agravou ainda mais a crise, pois, não se gera mais riqueza como antes da pandemia.

Cada crise do capitalismo que vivenciamos na pele, no dia a dia, demonstra constantemente a falha das teorias econômicas burguesas, que não entendem o verdadeiro funcionamento do capitalismo, que é movido pela exploração, e não pela confiança, como pensam os reformistas keynesianos.

Por fim, Rob Sewell retorna com a conclusão de que somente sob uma economia planejada crises ambientais e até a pandemia atual  poderiam ser rapidamente resolvidas, o que não é possível na economia baseada em mercado que é o capitalismo. Podemos através de uma economia de planejamento racional, não ter mais crises,  desenvolver as forças produtivas e, consequentemente, desfrutar da riqueza social abundante, assim,  colocando um fim na miséria e na exploração do homem pelo homem.